Ozzy Osbourne que faleceu nesta terça-feira (22), não foi apenas um ícone do heavy metal. Ele se tornou um personagem folclórico do rock, capaz de chocar, divertir e inspirar em igual medida. Do episódio do morcego em Des Moines ao palco histórico do Rock in Rio 1985, o “Príncipe das Trevas” construiu uma carreira marcada tanto por música imortal quanto por momentos que flertaram com o absurdo.
Essa é a jornada de um homem que criou um monstro — e que, fora do palco, muitas vezes só queria ser lembrado como John Michael Osbourne, pai, marido e cantor.
O dia em que Ozzy mordeu um morcego (e virou lenda)
Na noite de 20 de janeiro de 1982, um adolescente levou um morcego para o show do Black Sabbath, no Des Moines. Quando arremessou o animal ao palco, Ozzy acreditou que era de borracha. Instintivamente, colocou o morcego na boca e o mordeu. O público prendeu a respiração. Segundos depois, o choque: a criatura era real.
“Minha boca encheu de um líquido quente e o pior gosto que você pode imaginar”, contou Ozzy anos depois. Ao perceber a situação, ele cuspiu os restos no palco, mas já era tarde: o mito havia nascido.
Levado ao hospital, o cantor iniciou um doloroso ciclo de vacinas antirrábicas, com injeções diárias. “Foram semanas com agulhas enfiadas em cada nádega, coxa e braço”, lembrou ele em entrevistas posteriores.
O incidente ganhou manchetes ao redor do mundo e consolidou o nome de Ozzy no panteão do shock rock. Após o episódio, o público já estava acostumado a ver coisas bizarras nos shows de Ozzy. Fãs jogavam ratos, pedaços de carne e até cobras no palco, na tentativa de chocar o cantor que chocava o mundo.
A história do Ozzy com os pombos da paz
Um ano antes do morcego, em março de 1981, Ozzy protagonizou outro momento controverso. Durante uma reunião de divulgação com executivos da CBS Records em Los Angeles, a ideia de Sharon Osbourne, que foi produtora do cantor, era que o Osbourne soltasse três pombas como símbolo de paz. Mas a performance tomou um rumo inesperado.
Embriagado, Ozzy pegou uma das aves, mordeu sua cabeça e cuspiu sobre a mesa, diante de executivos perplexos. Não satisfeito, repetiu o gesto com uma segunda pomba.
“O pássaro estava morto, então, em vez de desperdiçá-lo, arranquei sua cabeça com uma mordida. Você devia ter visto a cara deles!”, disse anos depois, rindo da reação horrorizada dos presentes. E aí que a imagem de “besta-fera” estava consolidada.
Essa história tem varias versões, já que Ozzy, sempre alterou algum trecho em varias entrevistas. O fato é que ela realmente aconteceu, apesar da cena o contrato do cantor foi mantido com a CBS Record e o álbum foi sucesso de vendas, justamente pelo acontecimento.
Ozzy no Rock in Rio 1985: quando o monstro mostrou o homem
Foi com essa fama — de comedor de morcegos e decapitador de pombos — que Ozzy desembarcou no Brasil para o histórico Rock in Rio de 1985. Mas, no desembarque, o que os fãs viram foi o oposto da persona satânica: um inglês simpático, de pele clara, usando chapéu para se proteger do sol carioca e com ar de turista perdido em Copacabana.
“Ele chegou ao salão vermelho do hotel Rio Palace, para a tradicional entrevista coletiva, mais para John Michael Osbourne do que propriamente para o satânico Ozzy”, relatou o Jornal da Tarde em janeiro daquele ano.
Durante a entrevista, o cantor explicou com bom humor a diferença entre o homem e o personagem:
“Eu criei esse personagem monstruoso de Ozzy Osbourne. E as pessoas gostam desse monstro. Eu quero que as pessoas gostem desse monstro, porque ele é desse mundo de fantasia que vivo. Ozzy é teatral.”
E completou com uma reflexão sobre como gostaria de ser lembrado:
“Não gostaria de no final dos meus dias, quando estiver citado em algum livro sobre o rock and roll, aparecer como Ozzy Osbourne o homem que comia cabeças de morcego. Eu gostaria que estivesse escrito uma outra coisa tipo: Ozzy Osbourne, que ganhou não sei quantos discos de platina.”
E falando em disco de platina, Ozzy Osbourne foi introduzido no Hall da Fama do Rock and Roll em 2006, como membro do Black Sabbath. Com a banda, ele gravou nove álbuns que receberam disco de ouro, sendo que cinco deles alcançaram disco de platina.
Em sua carreira solo, sete de seus álbuns chegaram ao top 10 da Billboard 200. O álbum “No More Tears”, lançado em 1991, alcançou a 7ª posição na Billboard 200 e vendeu mais de 3 milhões de cópias nos EUA, de acordo com a Nielsen Music. Além disso, 17 de seus singles solo estiveram entre os 10 primeiros na parada Mainstream Rock Songs, com dois deles atingindo o pico dessa lista.
Voltando aos palcos do Rock in Rio, o teatro macabro voltou com força total. Em uma das noites mais pesadas do festival — que reuniu Whitesnake, Ozzy Osbourne, Scorpions e AC/DC —, uma cena inusitada surpreendeu até o próprio cantor:
“Quando eu toquei no Rock In Rio, em 1985, jogaram uma galinha viva no palco! Ela ficou lá, sentadinha”, relembrou Ozzy em tom divertido. Mesmo “desengonçado para andar e dançar” e com alguns quilos a mais, como registraram os jornais, o artista mostrou porque é — e sempre será — um dos gigantes do rock pesado.
Ozzy Osbourne no Brasil
Depois de subir ao palco nos dias 16 e 19 de janeiro de 1985, no “Cidade do Rock” em Jacarepaguá, como parte da turnê “Bark at the Moon”, Ozzy veio outras vezes ao país.
- 1995 – Monsters of Rock (2 de setembro, São Paulo)
Durante a turnê “Retirement Sucks”, ele foi headliner do festival em São Paulo em 2 de setembro. - 2008 – Monsters of Rock
Ozzy retornou ao país para se apresentar novamente no festival Monsters of Rock, como atração principal — desta vez reunindo multidões no Pacaembu (São Paulo). - 2011 – Scream World Tour (02 e 07–09 de abril)
Fazendo parte da “Scream Tour”, ele se apresentou em São Paulo (02/04), Rio de Janeiro (07/04), Brasília (05/04), Belo Horizonte (09/04) e Porto Alegre (30/03). - 2018 – No More Tours 2 (13 de maio – São Paulo; 16 de maio – Curitiba)
Durante a “No More Tours 2″, Ozzy realizou shows em São Paulo (13/05) e Curitiba (16/05), marcando sua despedida dos palcos brasileiros.
Além das lendas mais conhecidas, Ozzy acumulou outras polêmicas que ajudaram a construir seu mito:
- Sharon Osbourne revelou que, certa vez, pegou o marido a traindo com uma groupie — como é chamada a fã que segue os passos do artista. A resposta dela? Arremessar um quadro na cabeça do cantor.
- Nos anos 70, Ozzy acidentalmente ateou fogo à barba do baterista Bill Ward durante uma farra de bastidores.
- Polêmicas familiares expostas no reality “The Osbournes”— uma das filhas não quis participar. O programa foi exibido pela MTV entre 2002 e 2005.
- Em algumas regiões dos EUA, o cantor era acusado de rasgar Bíblias em quartos de hotel, gesto que alimentou ainda mais a aura de “besta do Apocalipse” construída pela mídia.
- Em 2013, Ozzy cometeu uma gafe durante um show na cidade de La Plata, na Argentina, ao aparecer no palco enrolado em uma bandeira do Brasil.
- Dois anos antes, em 2011, durante um show em Porto Alegre, ele apareceu enrolado em uma bandeira do Grêmio dentro do Ginásio Gigantinho, casa do rival Inter.
Ozzy Osbourne pode ter sido o homem excêntrico, com seu personagem um tanto quanto assombroso, mas, acima de tudo, foi o artista que redefiniu o heavy metal e deixou um legado eterno no rock.
Continue acompanhando o Dois Minutos!
[…] Saiba algumas das polemicas que construíram o mito, Ozzy Osbourne. […]